quinta-feira, 31 de julho de 2008

Luz - Araucária - S. Miguel

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Vista através de uma janela de casa de Ponta Delgada, São Miguel, Açores. As araucárias são belas árvores vindas das Américas. Há várias espécies. Esta é, creio, uma araucária chilena. Em São Miguel, há vários jardins absolutamente fantásticos com numerosas espécies de árvores, arbustos e plantas de todo o mundo. Desde o século XIX que os micaelenses cultivam um muito especial fervor pelas árvores. Três nomes se distinguem desde então, pelos jardins que plantaram e pelas espécies exóticas que mandaram vir de todos os continentes: José do Canto (esta imagem foi feita no jardim dele e da casa dos seus descendentes), Jácome Correia e António Borges. Eram amigos, mas também competiam entre eles para ver quem tinha o melhor jardim ou a espécie mais rara. Todos os seus jardins estão ainda lá, bem arranjados, bem mantidos e visitados por toda a gente. Nesse aspecto, os açorianos são bem melhores do que os portugueses do continente! (1992).

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Luz - Ciprestes - Tomar

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Os portugueses não calham bem com os ciprestes. Esta maravilhosa árvore foi especializada em cemitérios. São raros os que não habitam silenciosamente os locais ditos do “eterno repouso”. De vez em quando, no Douro, na Estremadura, no Ribatejo, encontram-se uns ciprestes, poucos ou muitos juntos, sem que se saiba como lá foram parar. Aqui, perto de Tomar, uma parte da estrada é bordejada por eles. Benditas mãos que para lá os trouxeram! (1992).

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Luz - Na famosa quinta do Vale Meão, no Pocinho

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Os terrenos estão preparados para receber vinhas novas. De muito pequena dimensão, as novas plantas mal se distinguem. Já foram colocados os “esteios”, antigamente em pedras de ardósia, hoje em madeira preparada, que permitem melhor a mecanização, com menor destruição. As novas vinhas já estão aramadas. No Douro, cada linha de esteios aramados chama-se “bardo”. Esta quinta do Vale Meão foi mandada plantar pela Ferreirinha, a Dona Antónia, nos anos oitenta do século XIX. Durante algumas décadas, entre 1960 e 1990, era daqui que vinha o principal vinho para o Barca Velha. Hoje, nas mãos da família Olazabal, produz vinho com o seu próprio nome. Os Olazabal são descendentes directos da Ferreirinha. (2007).

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Luz - Cornwall

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Passeava na Cornualha, há vinte anos. De repente, à beira mar, esta longa fila de pescadores. O mais estranho é que, apesar do emprenho e do esforço dos pescadores (fazia frio, chovia de vez em quando), não havia um único peixe pescado. Estive por ali cerca de uma hora, ninguém saiu, ninguém pescou. (1986).

domingo, 6 de julho de 2008

Eurico Figueiredo, “Guerrilheiro sentimental”

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"Com saudades do exílio”! Foi com esta dedicatória que o Eurico me ofereceu um exemplar do seu livro. Devo dizer, fiquei minutos parado a olhar para esta frase. Parece absurdo. Ou mentira. Ou romantismo barato. Não é uma coisa, nem outra, nem aqueloutra. É muito sério. Também já me aconteceu ter saudades do exílio!
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Esta frase obriga-nos a duas reflexões. A primeira: não estamos bem aqui; ou não estamos sempre bem; ou não estamos tão bem quanto imaginávamos há trinta anos. É, em parte, natural. Nunca estamos tão bem quanto gostaríamos. Mas também quer dizer que o nosso país não está bem. Depois de grandes mudanças, de desenvolvimentos notáveis, de melhoramentos indiscutíveis, vimos descobrindo, há dez ou quinze anos, que há esgotamento de energias, que persistem males na sociedade difíceis de resolver, como a demagogia, a corrupção, ou, simplesmente, noutro registo, o atraso e a ignorância.
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A segunda reflexão: os tempos de exílio, apesar das saudades, apesar das dificuldades, foram bons. Talvez não para toda a gente. Mas, para muitos, foram anos bons. Para mim, foram. Para o Eurico, foram. É verdade que nos sentíamos sempre diminuídos na condição de estrangeiro ou imigrante, nunca éramos realmente iguais em tudo a todos. Mas aprendemos, vimos, falámos e pensámos como nunca o teríamos feito em Portugal. Se eu voltasse atrás, sei hoje que poderia alterar ou trocar muito ou algo do que vivi. Mas o exílio, não! A ponto de ainda hoje, nos piores momentos da nossa vida colectiva, eu pensar e dizer que “se fosse mais novo, voltava a partir”! Pergunto-me se o Eurico não pensa a mesma coisa de vez em quando.
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Estas histórias do Eurico, aquelas que são mais propriamente sobre exilados políticos, têm um enorme mérito: não mostram o exilado como vítima nem como herói! Houve vítimas, houve pequenos heróis, por uma ou outra razão. Mas o pior, nestas e noutras coisas, é depois tirar partido, tentar ganhar reputações póstumas ou posteriores. Houve vítimas da repressão, da tortura e da prisão. Também houve vítimas da exploração e da xenofobia. Mas, falar disso tudo, mais tarde, com a intenção de se valorizar ou de obter recompensas, é detestável. Neste livro, Eurico nunca o faz. Olha para aqueles exilados políticos e emigrantes económicos com ternura e realismo, mas também com uma intensa ironia. Neles, procura a malandrice, o expediente, o acaso. Sem esquecer que a decisão de emigrar ou de se exilar tem, muitas vezes, outras circunstâncias: um erro, uma traição, um amor, a vontade de viver livre, a procura de melhor emprego ou um acaso. Naqueles tempos, para mim, normal era querer fugir, querer viver, querer conhecer. Estranho era ficar resignado, deixar-se abafar, contentar-se com a tristeza reinante.
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Este livro parece ser de memórias e de autobiografia, mas não é uma coisa nem outra. Apesar de sabermos que estão aqui memórias e pedaços de biografia.
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Estas histórias não são verdadeiras memórias, não tem nomes verdadeiros, nem de pessoas, nem de sítios. Não se sabe o que é ficção, especulação, real ou arranjado. De qualquer maneira, para algumas pessoas, são memórias “à la clef”, com uma espécie de código críptico só para uns. Como se fazia por vezes no século XIX. E raramente hoje. Algumas destas histórias, conheço-as no essencial, consigo colocar nomes e sítios onde estão os disfarces.
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A este propósito, não podemos deixar de, uma vez mais, nos queixarmos desta nossa sina que é a de termos poucas memórias, poucas biografias e poucas recordações ou autobiografias. É grande a pobreza de recordações em Portugal. Sinceramente, nunca soube exactamente porquê. Os portugueses têm vergonha do que foram? Mentiram e não querem reconhecer? Guardam os segredos e as vidas para a confissão católica? Têm medo de ferir outros? Não querem desgostar? Esperam sempre alguma coisa de outros?
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Sobre algumas das situações a que Eurico alude aqui (emigração, exílio, clandestinidade e guerra colonial), existe uma literatura paupérrima. Só agora, começaram a aparecer alguns livros sobre a guerra do Ultramar. Sobre a vida na emigração, ainda menos. Sobre a clandestinidade, quase nada. Sobre o exílio, igualmente. Parece que os portugueses têm medo da memória!
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Quanto ao livro. Quero realçar o estilo seco, enxuto, factual, sem pieguice. Com uma dualidade surpreendente. Nos temas mais urbanos, mais cosmopolitas, Eurico escreve como um urbano, um cosmopolita. Nos temas e situações mais populares, mais rústicos, Eurico consegue trazer até nós uma linguagem rústica, antiga, sem o fetichismo de alguns escritores useiros deste método, como Aquilino. E sem a pletora de arcaísmos e coloquialismos rústicos que, para muitos escritores, é uma tentação irresistível, mas que acaba quase sempre mal. Eurico evita esse deslize com sabedoria.
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Estas são histórias de um país pobre e abafado, da vontade de partir ou da necessidade de fugir. Por causa da guerra, da polícia, da liberdade, do dinheiro, dos empregos e dos amores.
Muitos dos que queriam viver tinham de partir. Sobretudo os que queriam escapar à sua condição de pobres, de ignorantes e de submissos.
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Este material poderia ser matéria-prima para um livro neo-realista, choramingas, mas, neste caso, não é. Entre o realismo seco e factual e uma enorme ternura contida, Eurico conta as suas histórias.
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Conheci Eurico há quase sessenta anos! Tantos! Aqui mesmo, em Vila Real. Ele é mais velho. Creio, aliás, que é a primeira vez que nos encontramos de novo em Vila Real, quase 50 anos depois!
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Sempre olhei para ele como olham os mais novos: para perceber, para aprender, para eventualmente copiar. No princípio, ele não me ligava nenhuma! Era mais velho, devia achar que eu era um puto provinciano.
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Ele ia para Lisboa. Ser ele estudante na capital aumentou a minha curiosidade. Queria saber dele, mas queria saber de Lisboa, da universidade, da capital, das raparigas, da intriga e da política. Quando vinha a férias a Vila Real, procurava-o. Bebíamos copos, falávamos. Passeávamos na Avenida, quando havia Avenida! Nessa altura, já me ligava. Parece que tinha prazer em ajudar-me a abrir os olhos.
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Cedo comecei a fazer perguntas sobre a política, o comunismo, o socialismo, a democracia. Falava-me como falam os mais velhos, com o sentimento de estar a ensinar, devagar, com cuidado, mas aberto.
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Uma altura houve mesmo em que o Governador Civil me chamou ao seu escritório e me avisou: “Andas de mais com o Eurico Figueiredo! Olha que ele não é boa companhia”! Foi quanto bastou para eu ver aumentar a minha curiosidade e o acompanhar ainda mais.
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Depois, encontrei-o em Coimbra, vinha ele quase deportado de Lisboa, impedido de continuar naquela universidade. Foi um ano difícil, o de 1962 para 1963. O governo fechou a Associação Académica. Fazíamos política e resistência como podíamos. Alturas houve em que dezenas de estudantes estavam presos. Foi um ano de chumbo, mais um.
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Ao fim desse ano, fugi eu para a Suíça. Poucos anos depois, chegava ele. Primeiro em Lausana, depois em Genebra. Dias depois de ele chegar, já estava metido em mil actividades, fundou um Secretariado dos Estudantes no exílio, organizou um encontro, criou uma organização, à frente da qual lhe sucedi uns anos depois.
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Em sessenta anos, houve períodos de grande intimidade, de actividades comuns e também de distância. Curiosamente, estive duas vezes no Parlamento, mas ele não estava. Ele esteve igualmente duas vezes, mas eu não estava. Mais desencontros. Mas tenho para mim que ele faz parte da minha vida. E, para isso, não há distâncias nem separações.
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Biblioteca Municipal de Vila Real, 25 de Junho de 2008

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Luz - Escada de xisto

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Esta escada está numa quinta perto de Valença, a caminho de São João da Pesqueira. Há muitas mais como esta, de socalco em socalco. Está em perfeitas condições. Construída à mão, com a técnica dita de “pedra seca”, sem argamassa. (1988).