domingo, 28 de dezembro de 2014

Luz - Terreiro do Paço, Lisboa

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Depois de anos e anos de abandono e desordem,
o Terreiro do Paço foi finalmente limpo, reorganizado e pavimentado. Retiraram-se os carros, quase todos, da maior parte da praça. Ficou uma rua para todo o tráfego e uma nesga infame, ao lado do torreão poente, para uma dúzia de automóveis dos senhores ministros e dos senhores secretários de Estado. À volta de toda a praça (seguramente uma das mais belas do mundo), apareceram restaurantes e cafés, uns discretos, outros com publicidade e ruído infectos. Enfim, paciência. O pavimento da praça ficou certamente claro de mais, a luz reflectida quase fere os olhos. Aliás, pode ver-se: quando chegam à praça, a primeira coisa que fazem as pessoas desprevenidas é pôr óculos escuros. Se os têm. A praça quase se prolonga agora até ao Cais do Sodré. Nesse percurso, há hoje relva, princípios de árvores, escadarias até ao rio, bancos e degraus… O Cais das Colunas foi reaberto e está acessível, menos quando há obras, o que parece ainda hoje, Outubro de 2014, acontecer quase todos os dias. No Terreiro do Paço e áreas adjacentes, vêem-se agora milhares de turistas, parte de um fenómeno realmente novo e que toca directamente a Lisboa e Porto. Por várias razões (Mediterrâneo em guerra, crise económica, custo de vida, voos “low cost”, beleza das cidades, interesse pelas cidades antigas, clima e mesa, etc.), aquelas duas cidades são hoje, desde há uma década, centros de atracção de turistas como nunca se tinha visto antes. Estes autocarros vermelhos fazem parte dos relativamente novos equipamentos de turismo. (2014)

domingo, 21 de dezembro de 2014

Luz - Cabine telefónica com estranhos ocupantes, Genebra, Suíça

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Que poderá dizer-se ou pensar-se desta imagem? O lenço vermelho no exterior e o cão dentro da cabine deixam lugar a hipóteses atrevidas e interpretações selvagens. O senhor não está sequer a falar, como se pode ver pelo auscultador pendurado no seu descanso. Que fará ele? Lê a lista telefónica? Olha para coisas suas? (Ca. 1970)

domingo, 14 de dezembro de 2014

Luz - Alhambra, Andaluzia, Espanha

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Localizado à margem da parte mais conhecida e original do Alhambra, este é um edifício imponente e pesado, talvez sem graça exterior aparente. Mas o trabalho da pedra é impressionante. Não conheço o nome ou o termo técnico para estas paredes e para este género de “almofadas”, mas este é um estilo de obra em pedra frequente em países de origens e tradições hispânicas. É curioso que também em móveis de madeira se possa encontrar uma estética parecida com esta. (2008)

domingo, 7 de dezembro de 2014

Luz - Muralhas de Sacsayhuamán (ou Sacsahuamán), Cuzco, Peru

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Estas muralhas são maravilhosas. Infelizmente, representam apenas uma muito pequena parte do original mandado construir nos séculos XIV e XV para defender a capital do Império Inca. Quando os espanhóis chegaram e conquistaram, retiraram a maior parte da pedra a fim de construir edifícios e desenvolver a cidade. O que fizeram. Na verdade, um número importante das construções, a começar pelos edifícios públicos, monumentos e Igrejas ainda hoje a uso, é feito com pedra saída daqui para as fundações e os muros até ao primeiro andar. Ainda hoje não se conhece tudo destas muralhas. Eram militares, mas também de armazenamento de alimentos e outros bens. As pedras gigantescas foram cortadas e juntas com uma absoluta precisão: em muitos sítios não cabe uma faca ou uma folha de papel entre dois pedregulhos. Não se sabe como foram talhadas as pedras, nem como foram transportadas até aqui. Estas muralhas ficam a um ou dois quilómetros a Norte de Cuzco. Apesar da subida, chega-se lá facilmente a pé. Foi o que fiz, mal aterrei na cidade. Estava de tal maneira eufórico com a minha primeira estadia em Cuzco (antes, Iquitos e Lima, uns dias depois, Machu Pichu e o lago Titicaca, lugares que me encantavam desde a adolescência…), que nem tomei as precauções indispensáveis. Dada a altitude, era necessário começar a andar devagar, prever um dia para me habituar, não beber cerveja, tomar uns comprimidos de Coramina glicose, comer pouco, dormir… Ora, mal desci do avião, fui ver as muralhas, passei lá quase um dia, andei a correr atrás dos lamas, bebi o que encontrei, incluindo uma aguardente inca horrorosa… Nessa noite, fui para a cama com uma dor horrenda em todo o corpo, um estouro na cabeça e as articulações a gemer… O médico das urgências sorriu, disse entre dentes qualquer coisa como “estes parvos destes turistas…”, deu-me os medicamentos habituais e mandou-me descansar um dia. Foi o que fiz e não voltei a repetir a graça. (1971)

domingo, 30 de novembro de 2014

Luz - Uma parede que quase fala, Portimão, Algarve

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Aqui temos uma parede quase a merecer honras de arqueologia. Só a Internet permite perceber alguns destes acrónimos. JAPBA é, pelas dimensões, o primeiro e mais importante. Trata-se da Junta Autónoma dos Portos do Barlavento Algarvio, com o seu orgulhoso Posto de Fiscalização, cuja sede deve ter sido em Portimão. Não posso afirmar que perdi muitas horas, mas dediquei algum tempo a tentar perceber o que tinha acontecido a esta JAPBA. Só sei que ainda vivia em 1995, pois Cavaco Silva e Mário Soares assinaram então uma lei que lhe dava poderes para concessionar actividades a terceiros. Depois disso, é o silêncio dos túmulos! O P.E., depois de investigação, servia para garantir que se tratava de “Património do Estado”. O PS é o Partido Socialista. E o Partido Comunista Português é o PCP. O anúncio ao comício a realizar em Portimão refere um importante dirigente da altura do PCP, Octávio Pato. A misteriosa LUA visível na parede, quase atrás da cabeça do senhor da esquerda é uma sigla diminuída. Na verdade, trata-se da LUAR, Liga de Unidade e Acção Revolucionária, grupo político dirigido e fundado, entre outros, por Hermínio da Palma Inácio e que ainda hoje se recorda por ter, antes de 25 de Abril de 1974, levado a cabo um audacioso assalto aos cofres do Banco de Portugal da Figueira da Foz. A Exposição Anti-colonial que se anuncia deveria ser o que diz ser, não parece ter deixado recordações conhecidas. (1974)

domingo, 23 de novembro de 2014

Luz - Tourém, Trás-os-Montes

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Aldeia perto da fronteira entre Portugal e Espanha. Fronteira, aliás, praticamente inexistente hoje. Não longe de Montalegre e do Gerez. Por ali andei, há quase quarenta anos. Esta formidável debulhadora deveria ser o símbolo de maior modernidade e de mais avançada tecnologia existente na aldeia. O cereal que se debulha aqui é centeio, típico de solos pobres, de climas frios e de cultivo em sequeiro. Ao fundo da eira, quase imperceptíveis, podem-se identificar um ou dois espigueiros, aqueles “armazéns” de granito e madeira que protegiam o cereal, o grão, às vezes uns utensílios ou produtos da horta. Protegiam-se das chuvas, dos fungos e dos ratos. Ainda há gente a viver em Tourém. Mas cada vez menos. E jovens, poucos.(1980)

domingo, 16 de novembro de 2014

Luz - S. Petersburgo, Rússia

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A primeira vez que tinha estado nesta cidade fora nos anos sessenta. Nem a cidade, nem eu, éramos iguais ao que somos hoje. S. Petersburgo chamava-se então Leninegrado (depois de já ter sido Petrogrado por uns poucos anos), do nome de Lenine, o revolucionário russo, depois chefe do partido comunista da União Soviética, o fundador e primeiro ditador daquele país (tal como havia Estalinegrado, de Estaline, o segundo ditador). Nessa altura, era impensável ver um militar russo, ou soviético, sentado num banco no meio da rua ou de um jardim, com uma lata de cerveja no chão, ao lado de um jovem de T-shirt e mangas à cava, talvez também militar. S Petersburgo, maravilhosa cidade, voltou a ter o nome que tinha desde a origem (foi aliás o Czar Pedro que a fundou no início do século XVIII). Estes dois jovens estão sentados num banco público dos jardins em frente à catedral de Santo Isaac e perto de hotéis famosos, o Astoria e o Angleterre, onde pernoitaram, desde há cem anos, todos os importantes deste mundo, capitalistas ou comunistas, russos ou americanos, militares, políticos e escritores. A catedral de Santo Isaac, acima referida, tem uma história curiosa. Após a revolução, os comunistas decidiram que aquele local deveria ser encerrado ao culto e às trevas. Assim fizeram e transformaram-na, pouco depois, num “Templo do Conhecimento”, apetrechado de um “Pêndulo de Foucault”. O Museu ficou a chamar-se “Museu da História da Religião e do Ateísmo”. Agora, perdeu a vertente “ateísmo” e ganha gradualmente a sua vocação religiosa. (2010)

domingo, 9 de novembro de 2014

Luz - Jardim de um palácio na República Democrática Alemã

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Posso errar e tenho dificuldade em encontrar fontes e vestígios, mas creio tratar-se dos jardins do palácio Sans Souci (ou Sanssouci), em Potsdam, perto de Berlim. O palácio, em estilo Rococó, foi mandado construir por Frederico, o Grande, em meados do século XVIII. Era a sua residência preferida, a tal ponto que exigiu ficar lá enterrado numa campa descaracterizada, coberta por uma laje simples, ao lado das campas onde, sem mais nem menos requintes, ele mandou enterrar os seus cães. Em cima do seu túmulo, há por vezes uma flor e geralmente umas batatas, ao que parece em homenagem ao facto de ter sido ele o seu introdutor na Prússia. Os jardins são monumentais, com árvores, repuxos, pérgulas, vinhas, ramadas e escadarias. Visitei-o durante o período comunista e voltei lá há poucos anos. Esta fotografia data da primeira viagem, ainda nos anos 60/70. Era um domingo, feriado para toda a gente, a começar pelos militares que assim se passeavam com as famílias. Num canto sossegado, as famílias de três militares russos, na altura dizia-se soviéticos, passeiam, convivem e fazem-se fotografar num ambiente de paz e calma. Como se sabe, nesses anos, a Alemanha de Leste estava militarmente ocupada pela União Soviética, enquanto os exércitos aliados dos Estados Unidos, da Inglaterra e da França, ocupavam a Alemanha ocidental. (Ca. 1970)

domingo, 2 de novembro de 2014

Luz - Fátima.

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Dias antes de uma peregrinação, quando o santuário e a alameda da Cova da Iria estavam quase desertos. Fátima é uma verdadeira tentação para um fotógrafo. Em todos os seus estados, com peregrinos ou sem eles, com o comércio dos vendilhões ou as velas e os círios das promessas, à noite ou de madrugada, com sol em brasa ou sob fria chuva… Fátima é local de grande fotogenia. E não é de certeza pela beleza natural, que não é muita. Ou mesmo nenhuma. Esta fotografia data ainda dos tempos anteriores à nova catedral e todo o local era mais despojado. Estas duas irmãs criam uma impressão estranha. Zanga? Polémica? Ralhete? Indicação de percurso? Direcção de caminho? Instrução? É difícil imaginar o que uma diz à outra, mas a pose da primeira revela uma autoridade e uma energia mais forte do que a redondeza da outra. (1994)

domingo, 26 de outubro de 2014

Luz - Bar Negresco em Roma, Itália

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Creio que o mais importante Negresco que existe é um hotel de Nice, famoso há mais de cem anos, fotografado e filmado milhares de vezes. O hotel fica na reputada Promenade des Anglais, com vista para o Mediterrâneo. O nome vem de um senhor romeno que foi director do casino de Nice e que, tendo ficado milionário, mandou construir o hotel e baptizou-o do seu nome. Para além do original, mas com exactamente o mesmo nome, há hotéis e bares um pouco por todo o lado, no Sul de França, em Paris, em Espanha e em Itália. Sei que em Lisboa também há ou houve um restaurante. O Negresco desta imagem é um bar simpático e sem pretensões, mas com toalha branca na esplanada, o que não é pouco. A alegria da fotografia é evidentemente a figura de um padre, provavelmente um monsenhor. O chapéu podia ser de monsenhor! Será pelo uniforme, será pela batina, mas a verdade é que os padres são particularmente fotogénicos. Também pode ser porque, com excepção dos templos, os padres parecem sempre deslocados no mundo: as raparigas, os bares, o comércio, os carros, os restaurantes, o cinema, o luxo, a moda, os prazeres da Terra, as várias formas de pecado… tudo parece estar fora do alcance dos sacerdotes e estes parecem sempre excêntricos e insólitos. Apesar de sabermos que nada do que acima foi enumerado lhes seja estranho… (2001)

domingo, 19 de outubro de 2014

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Entrevista ao «DN» de 10 de Outubro de 2014

"Empresários não têm liberdade para dizer e fazer o que querem"

Em pouco mais de meia hora de entrevista, o sociólogo fez a análise política e económica do país. O Presidente da República, o governo, o novo líder do PS, os empresários e as famílias através das lentes de António Barreto,
"Portugal gosta de ser especial mas está a ficar como os outros países"

Em pouco mais de meia hora de entrevista, António Barreto varreu o país de ponta a ponta e analisou a situação económica e política. Sobre os empresários, por exemplo, diz serem dependentes e que "dão para os dois lados, para a esquerda e para a direita"

Texto: Sílvia de Oliveira e Hugo NeuM(TSF) Fotografia: Orlando Almeida/Global Imagens

É um dos mais respeitados sociólogos e pensadores da cultura portuguesa e autor de numerosas obras de história e de sociologia. Passou pelo Partido Comunista antes de aderir ao Partido Socialista, foi ministro, deputado no final dos anos 80, mas cedo abandonou a política. Mais recentemente foi presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos, onde criou a base de dados Pordata. Demitiu-se em abril.

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Passámos o período de resgate a ouvir dizer que o que se estava a operar não era apenas uma transformação económica, mas também uma transformação cultural e que o português médio iria sair da crise diferente. Isso aconteceu?  
 
É muito cedo para avaliar os efeitos e consequências do tratamento de choque da troika. E o tratamento ainda não acabou. Estou convencido de que vamos ter mais um, dois ou três anos, ou quatro ou cinco, em que será necessário, por outros meios, manter uma tensão grande sobre os níveis de endividamento, despesa, investimento público e finanças públicas.  
 
Portanto, os resultados verdadeiros só serão conhecidos mais tarde. Por outro lado, tudo o que diz respeito às mentalidades e costumes são as últimas coisas que mudam numa sociedade. Demora muito tempo. É mais fácil assinar um cheque para comprar um carro do que mudar os comportamento e as mentalidades. Quando um político não sabe o que há de dizer, diz logo que o que é preciso é mudar as mentalidades. Isso, em geral, quer dizer que não faz a mínima ideia do que é que está a falar nem o que vai fazer. Vivemos, nestes três anos, uma grande crise de necessidade. As pessoas perderam empregos, rendimentos, casa, as condições de vida que tinham e a ideia, que alguns defendem, de que se começou a ter consumos mais racionais, que se vai ver o que é a pegada ecológica, se se está a prejudicar as gerações futuras, isso, para já, são devaneios.  
 
Precipitações.  
 
Muitas pessoas emigraram, outras reformaram-se ou tiveram de ir para o desemprego, por exemplo, com 45 ou 50 anos e nunca mais vão ter trabalho sério, regular na vida, essas pessoas mudaram. Muitas delas, que ficaram cá, estão talvez mais amargas, resignadas. As que emigraram talvez não, talvez tenham uma espécie de ressurreição. Passado um primeiro embate de dificuldades, as pessoas habituaram-se a fazer um esforço de sobrevivência, a lutar pela vida, pelos filhos, por eles próprios. O que isso vai dar nos próximos anos ainda não sabemos, é muito cedo. A esperança que cada um de nós tem - cidadãos, empresas, bancos e Estado - é de que ficássemos com um pouco mais de consciência do que é o endividamento. Um alto endividamento é escravidão.  
 
Não se pode viver com o que não se tem.  
 
Há a ideia de que são só os pobres que estão endividados, mas não, são sobretudo os ricos, as empresas, o Estado. Toda a gente se endividou. O endividamento pode retirar-nos a independência -já tirou a maior parte -, pode tirar-nos a liberdade e o bem-estar.  
 
Há dias, soubemos que no primeiro semestre o crédito ao consumo, tão diabolizado pela troika, cresceu 17%. Este não é um facto que deita por terra a ideia de uma espécie de revolução cultural, de higienização das finanças pessoais?  
 
Cresceu tão fortemente também porque tinha baixado. E as pessoas estão a tentar recuperar um bocadinho.  
 
Uma pessoa que está habituada a comer certo tipo de carne, não necessariamente bife do lombo do mais caro, e que teve de baixar para coelho, depois para frango e depois para salsichas, e que na primeira oportunidade que tem para voltar a comer um bocado de frango não posso dizer que essa pessoa está a exagerar no consumo. Isso é uma loucura. Talvez a classe média queira recuperar níveis de consumo. Temos de esperar para ver.  
 
Mas este indicador não revela que não se aprendeu com o passado?  
 
Se isso significa endividamento, a minha conclusão então é pessimista, muito cética, quer dizer que as pessoas continuam a pensar que podem viver mais endividadas.  
 
E agora, após a intervenção da troika, o que é que o país ganhou?  
 
É uma dúvida de muitas pessoas.  
 
Era necessário fazer grande parte do que foi feito. Mas foi mal feito, com maus prazos, maus níveis de juros, más maturidades, más escolhas, de bater nos pobres ou nos ricos, na classe média, nos velhos ou nos novos.  
 
Foi tudo feito à força, à bruta. Muitas coisa podiam ter sido feitas com mais seletividade, mais organização, mais explicação. O governo não explicou bem o que estava a fazer, não pediu solidariedade, cumplicidade, apoio, agiu muito no eu quero posso e mando, tem de ser, é a necessidade, e isso não se deve fazer. O que não impede que uma parte do que foi feito tivesse de ser feito. Não tínhamos crédito, não tínhamos finanças públicas e não basta dizer que a Europa tem de pagar e que nós vamos sair do euro.  
 
Há muita gente a dizer muitas coisas muito irresponsáveis. A minha convicção é de que vamos ter mais três a cinco anos de dificuldade. Não sei qual vai ser o sistema, não sei se será um novo resgate, uma nova maneira de fazer austeridade, de reavaliar a dívida e de reestruturar. Tudo isso dependerá da capacidade negociai do próximo governo junto das instâncias internacionais e da própria situação europeia. As notícias da UE são todas más. Nada leva a crer que Portugal possa ser ajudado. E nestas coisas já percebemos, mais do que uma vez, que ninguém ajuda ninguém, a não ser que esteja interessado. Quanto a nós, importa zelar o mais rapidamente pelas condições políticas de gestão das dificuldades económicas e financeiras, uma coisa muito mal feita até agora. Não houve um compromisso interpartídário. Falharam os partidos - os dois grandes-, falhou o Presidente da República, toda a gente. Agora, há que zelar muito seriamente pelas condições políticas da gestão futura da economia e das finanças, que continuarão a ser muito duras. Estamos há três ou quatro anos numa espécie de transferência de rendimentos. Os pobres pagaram mais do que os ricos, a classe média pagou muito mais do que os ricos, a economia pagou muito mais do que as finanças, os pensionistas pagaram muito mais do que os ativos. Nos grandes dilemas nacionais, foram sempre as partes fracas a perder, tal como na Europa, onde também se tem assistido a uma transferência permanente de recursos dos devedores para os credores, do Sul para o Norte, dos pobres para os ricos, do trabalho para o capital. Isso foi reproduzido em Portugal em condições ainda piores. Era importante que as condições políticas dos próximos cinco anos pusessem um travão a isto.  
 
A troika saiu, o salário mínimo aumentou, o IRS vai provavelmente descer e em 2015 há eleições. Há uma ligação entre estes factos?  
 
Para já sim, mas quero ainda comprovar, esperar pelo próximo Orçamento para ver se, de facto, o governo resiste a esta espécie de chaga demagógica que nos habita há 3 0 ou 40 anos.  
 
É preferível não descer impostos?  
 
Há um número do Henrique Medina Carreira que sintetiza muito bem a situação em que estamos. A economia permite que o Estado gaste cerca de 70 mil milhões. Há quatro anos, chegámos a gastar 90 mil milhões.  
 
Foi o princípio do caos e da bancarrota. Atualmente, estamos a gastar 80 mil milhões. Faltam tirar 10 mil milhões. É preciso muita seriedade.  
 
Seria preferível não aumentar salário mínimo e descer impostos?  
 
Não consigo tudo ao mesmo tempo.  
 
Por um lado, tenho as pensões e as reformas, o salário mínimo, por outro, o IRS, o IRC, o IVA, tenho várias quantidades. Interessa saber o que posso aliviar sem recomeçar com a demagogia. A pergunta é inevitável: porque é que isto não foi feito um ano antes ou um ano depois e sim neste, que coincide com o mandato eleitoral? Os políticos portugueses não resistem à demagogia eleitoral.  
 
É assim há cem anos e vai continuar a ser assim.  
 
O PS tem um novo líder, António Costa, que tem um perfil diferente de António José Seguro. Mas o PS de Costa será assim tão diferente, no conteúdo, do PS de Seguro?  
 
Mais uma vez, temos de esperar, é cedo. De António José Seguro sabíamos um pouco mais. De António Costa . não sabemos exatamente o que é que ele pretende fazer. António Costa parece trazer um maior capital de tradição partidária, seja republicana, socialista, de extrema esquerda socialista, maçónica, "soarista", "socratiana".  
 
Isso não pode ser um tiro que sai pela culatra ao PS?  
 
Isto quer dizer que ele tem uma grande base de apoio. Mas, agora, António Costa tem de ser secretário-geral, tem de ter um programa de governo, vai ter de ganhar as eleições e vai ter de dizer onde é que vai buscar os recursos para as finanças públicas. Até agora tem-se limitado a dizer que a Europa paga. Isto não faz sentido. Paga o quê, como, quando e onde? Ele nunca afirmou muito claramente a sua política de alianças e o número de encenação com o partido Livre é um fenómeno novo. O partido Livre é o mais pequenino deles todos, portanto, é o que compromete menos, mas António Costa pôs o dedo numa questão importantíssimo. O PS é geneticamente anticomunista e deixar de ser anticomunista e passar a ser amigo ou aliado do comunismo, do Bloco de Esquerda, ou do Livre, põe problemas seríssimos. Não digo que não nem que sim, eu não o faria. Esta impossibilidade foi uma espécie de seguro de vida da direita e não é saudável que a direita tenha um seguro de vida deste género.  
 
Mas acha que Costa pode chegar ao Partido Comunista?  
 
Ele já deu vários sinais. Sinceramente, não sei. E Costa não esclareceu. As boas frases, ambíguas e equívocas, são as que deixam interpretações possíveis. Quando ele diz "é tempo de acabar com uma esquerda que não se sabe somar"... Agora, esta discussão tem de ser séria. António Costa não quis dizer diretamente o que quer fazer. Acho que vai esperar pelos resultados do debate, mas ele está a correr o risco de perder o próprio partido, porque a força anticomunista do PS é muito grande.  
 
Se António Costa vencer as legislativas, terá condições de fazer diferente e melhor, ou a presença da troika continuará a pressionar e nada acontecerá de diferente?  
 
Ele vai tentar fazer diferente, melhor, vai tentar puxar por todas as hipóteses da solidariedade europeia que existem, que são muito poucas. Não sei se vai conseguir fazer melhor.  
 
Mas há condições para um governo verdadeiramente socialista, menos liberal?  
 
Não sei se temos condições para isso, se temos dinheiro para isso, se há recursos suficientes. O pior de tudo é que estamos numa espécie de oscilação e hesitação entre a independência e a liberdade. Se queremos muita liberdade, temos de nos proteger e só a União Europeia nos protege. Se queremos muito a independência, vamos perder a liberdade, porque teríamos de sair do euro, da União Europeia e deixar de ter amigos lá fora. Tenho a minha saída pessoal e prefiro a liberdade. Já estou resignado a vivermos praticamente sob protetorado, como atualmente. O nosso regime constitucional está de pantanas, porque estamos a viver contra a Constituição.  
 
A Constituição não permite o que estamos a fazer, nomeadamente, com as decisões políticas internacionais que mandam o que Portugal está a fazer hoje em dia. Qual é a margem de liberdade do António Costa em tudo isto? É muito curta. E o problema não é do António Costa, é de qualquer outro. Por isso, o compromisso de uma grande maioria da ordem dos 60% a 70% era indispensável.  
 
Na sua vida profissional recente foi presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos e esteve muito próximo dos empresários, nomeadamente do presidente do grupo JERÓNIMO MARTINS. Os nossos empresários são competentes?  
 
Não é a minha proximidade da família Soares dos Santos que me vai fazer ter ideias sobre a classe empresarial portuguesa. A impressão que tenho dele e da família não tem nada que ver com o resto. O resto são ideias que vou acumulando desde há muitos anos. E não estou particularmente feliz com o que vejo. Grande parte dos empresários viveram sempre à sombra do Estado, ainda vivem e querem continuar a viver, são dependentes do Estado, muitos deles não têm liberdade para dizer e fazer o que querem por causa dos contratos do Estado, dos interesses. E vivem com uma enorme facilidade e promiscuidade relativamente à política. Dão para os dois lados, para a esquerda e para a direita. O que se tem visto relativamente ao ex-grupo Espírito Santo é demonstrativo disso. Estive a ler o relatório da comissão de auditoria da PT, onde novamente aparece o grupo e a família Espírito Santo, e fiquei com uma péssima impressão do que foi a privatização dos grandes serviços públicos. Na verdade, nada foi privatizado no sentido do investimento, foi sim privatizado no sentido de vendido rapidamente para obter dinheiro estrangeiro, que não cria emprego, novas indústrias, novos produtos e novos serviços, que não arranja emprego, que não investiu nada. O que se passou com a PT e com os 900 milhões e a ligação que agora está evidente ao grupo Espírito Santo deve-se, em grande parte, aos maus hábitos, às más tradições de grande parte da elite empresarial portuguesa. Digo grande parte porque ao lado há umas centenas ou milhares de empresas que salvaram Portugal com a exportação. Deste grupo, curiosamente, fazem parte os que falam menos, os menos mediáticos.  
 
O Presidente alertou para uma possível implosão do sistema partidário, culpou os partidos e insistiu no apelo ao compromisso. Cavaco Silva tem razão, o atual sistema partidário está em risco?  
 
Sim, o sistema está em risco e o Presidente da República deu o seu contributo para isso. O mandato poderia ter sido feito de outra maneira, com os partidos políticos, com mais visibilidade pública. Se estas preocupações são dele há já dez anos, já o deveria ter dito antes. Só o está a fazer no fim do seu mandato, tem mais um ano.  
Porque só o faz agora no fim?  
 
Está a construir a memória final do seu mandato.  
 
A pulverização de votos que está a acontecer em Portugal e que acontece, até com maior intensidade, em outros países da Europa, será um fenómeno circunstancial, ou um movimento sem retomo?  
 
Nestas coisas da política a previsão pode brilhar pela certeza ou pela asneira. Nunca fui grande simpatizante da previsão. Estou convencido de que, gradualmente, vamos caminhar para uma fragmentação política, isto é, vão aparecer novos partidos. Tanto dentro do PS como no PSD, poderão existir fenómenos importantes de separação.  
 
Como é o caso do Livre?  
 
Sim. Vamos ver qual o efeito do Livre no Bloco de Esquerda, mas a minha convicção também com o novo Partido Democrático Republicano é que pode ser uma explosão efémera de primavera que de repente acaba, como o Carnaval para durar três dias. Mas pode ser que não. Em toda a Europa há casos destes. Portugal não é diferente. Apesar de resistir muito, Portugal está a ficar um país como os outros. Portugal gosta sempre de ser especial, geralmente pelas más razões, mas está a ficar como os outros países. E nos outros países os novos partidos surgiram e estão a surgir, muitas vezes, a partir ou a esfacelar os partidos existentes. A minha convicção é de que nos próximos dez anos vamos ter novos partidos e que alguns dos atuais vão ficar irreconhecíveis.  
 
Esse fenómeno de aparecimento de novos partidos pode forçar o tal compromisso que defende?  
 
Esperemos que seja esse o resultado, porque senão será o caos político. Em 100 ou 150 anos, Portugal nunca reviu as constituições, ou, antes, as constituições foram feitas à força, não foram referendadas. Estamos em vias de nos aproximar de uma época em que o regime e a Constituição, se não evoluírem pacificamente, democraticamente e em liberdade, sê-lo-ão pela força. Se o caminho for o da fragmentação, sem compromisso nacional, para garantir a responsabilidade da direção política, então teremos o esfacelamento, a Constituição e o regime por terra, como no passado, tantas vezes.  
 
Portugal já deveria ter tido eleições?  
 
Estamos a viver um ano e meio dramático. Desde as eleições europeias tudo tem corrido mal dentro dos partidos, entre os barões dos partidos, no sistema político, no Parlamento, nas comissões de inquérito, no caso Espírito Santo, na PT, na TAP, nas PPP, na Educação. A abertura do ano letivo é um escândalo nacional e internacional. O escândalo da Justiça é uma coisa que já não é do domínio do autismo político, é do domínio do psicadélico. Este Orçamento vai ser de crispação, o do ano que vem vai cair em cima das legislativas, a poucos meses das presidenciais. Já devíamos ter arrumado a casa, já devíamos ter novo Parlamento, novo governo, um compromisso político para podermos viver o futuro. Qualquer dia que passa sem eleições é mau. A partir das europeias deveríamos ter feito logo legislativas.  
 
Começa-se a falar de março.  
 
É qualquer coisinha, mas é o costume, em Portugal tudo se faz com atraso. Deu-se cabo da ditadura com atraso, da descolonização com atraso, da Guerra Colonial com atraso, a revisão da Constituição foi feita com atraso, foi tudo sempre com atraso.  
 
António Costa poderá vencer as legislativas?  
 
É possível, sim. Duvido que tenha capacidade para ganhar com maioria absoluta, mas penso que há uma possibilidade de ele ganhar.  
 
E precisamos de uma revisão constitucional nesta fase?  
 
Profunda. Que impeça governos minoritários, que decida definitivamente a relação de poder entre o Presidente e o Parlamento, que continua a ser equivalente. É preciso inscrever limites máximos ao défice, é preciso retirar da Constituição meia dúzia de coisas puramente bacocas e demagógicas. O que é que é tendencialmente gratuito? Não sei o que isso é. Era necessário dar mais liberdade às gerações atuais para que possam rever a sua Constituição. É preciso permitir as eleições independentes, de novos partidos, é preciso que haja eleições uninominais, de confiança pessoal dos candidatos.  
 
Defende a candidatura de cidadãos independentes nas legislativas?  
 
Absolutamente. Não que queira eleger independentes, não quero fazer um Parlamento com 150 independentes. Isso seria uma balbúrdia, ingovernável. Quero é que a pressão dos independentes seja tal, que obrigue os partidos a ter os melhores.  
 
Quando os partidos perceberem que ao lado dos seus camafeus de conservação, educados nas suas alcovas partidárias e nos seus laboratórios de confeção da juventude em geral, de confeção dos agentes partidários, e que em vez disso na sociedade há pessoas que trabalham, trabalhadores e empresários, cientistas, diretores, advogados, o que quer que seja, que são boas pessoas profissionalmente, humana e culturalmente, os partidos têm de os ir buscar porque senão perdem.  
 
Estaria disponível se isso acontecesse, se fosse possível?  
 
Na minha idade já não, já não estou disponível para nada na política há 15 anos.  
 
PONTO FINAL António Barreto defende a realização de eleições legislativas quanto antes. Tal deveria ter acontecido logo a seguir às europeias.

domingo, 12 de outubro de 2014

Luz - Nova vista dos balcões do Liceu, a Ópera de Barcelona

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Já aqui tivemos outra imagem do Liceu, uma das grandes salas de Ópera da Europa. É só mais uma… (2012).

domingo, 5 de outubro de 2014

Luz - Outra vista de Bogotá, Colômbia.

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Esta imagem completa a anterior e dá-lhe todo o sentido. Foi igualmente tirada a partir do último andar do Museu da Esmeralda. A sobreposição dos tempos diversos é mais nítida. Noto também a proximidade da montanha verde contra a qual a cidade cresceu. (2013)

domingo, 28 de setembro de 2014

Luz - Vista de Bogotá do alto do edifício do museu da Esmeralda, Colômbia

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Está aqui mais ou menos tudo: do estilo colonial ao moderno século XXI, passando pela burguesia comercial dos princípios ou meados do século XX. Bogotá ferve e agita-se. A cidade são várias cidades, rica e pobre, moderna e antiga, asseada e desmazelada, segura e de meter medo… De qualquer maneira, para uma capital de um país que, ainda há tão poucos anos, vivia quase em permanente guerra civil e com “territórios libertados”… Fiquei surpreendido com a relativa ou aparente indiferença dos cidadãos da capital perante esse legado recente. (2013)

domingo, 21 de setembro de 2014

Luz - Curioso edifício moderno, Pereira, Colômbia.

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A fotografia foi tirada de dento de um carro. Vêem-se, aliás, alguns reflexos nos vidros das janelas. É mais um exemplo de um “estilo” excêntrico, atrevido e por vezes descuidado (preguiçoso também seria um atributo…) a que se pode chamar “road photography”, por analogia com a famosa e antiga “street photography”. O instantâneo, o enquadramento insólito e a curiosidade que de outro modo se perderia podem ser apanhados com este género de fotografia. Mas, pelas circunstâncias, a qualidade deixa, em geral, muito a desejar. Neste caso, o edifício merecia o “snapshot” quase sem reflexão ou preparação! (2013)

domingo, 14 de setembro de 2014

Luz - Porto e litoral urbano de Cartagena de las Índias, Colômbia

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Este porto de mar, com antigas tradições, é ainda um dos principais da América Latina. A cidade teve uma história tormentosa, atravessou mesmo períodos de total ruína, no meio de guerras independência. Neste porto, por entre as estruturas tecnológicas, os guindastes e os contentores, também se encontram barcos de recreio, muralhas e fortalezas com três ou quatro séculos e edifícios muito modernos. Estamos ainda muito longe dos portos especializados com separação de actividades (comércio, transporte, passageiros, habitação, turismo, lazer…). Talvez não seja muito “rentável” nem “competitivo”. Mas lá que tem mais graça… (2013)

domingo, 7 de setembro de 2014

Luz - Na estrada, perto de Pereira, a caminho da região cafeeira, Colômbia

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Ainda na estrada entre Pereira e a “finca cafetera” que fui visitar a umas dezenas de quilómetros da cidade grande. Aqui já é quase um centro comercial. Num espaço com poucos metros, há de tudo, vendas, cafés, refeições, muita cerveja, garagem, reparações do que for preciso… (2013).

domingo, 31 de agosto de 2014

Luz - Arredores de Pereira, a caminho da montanha cafeeira, Colômbia

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As montanhas do “eje cafetero”, à volta de Pereira, são verdes como é difícil imaginar. Enquanto não chegávamos a uma “finca cafetera”, passámos por dezenas ou centenas de pequenas aldeias, casas dispersas, comerciantes de improviso, vendas e armazéns de estrada onde se tratava de tudo, comprar, vender, alugar ou servir… Esta casa é uma delas, com três homens, criança e cão. (2013).

domingo, 24 de agosto de 2014

Luz - Aeroporto parado e fechado, por causa da neve, à espera que regresse o bom tempo

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Este aeroporto esteve fechado durante quatro ou cinco dias. Quando lá cheguei, a tentar desafiar a sorte, não havia aviões, nem garantia de que houvesse nesse dia. Mas vale a pena tentar, disseram-me. Umas horas de espera com umas bebidas, jornais e livros… Algumas fotografias para entreter. A meio da tarde, anunciam o avião para Nova Iorque, donde eu poderia depois arranjar correspondências. Fui. A tempo de apanhar um voo para Lisboa. Antes de partir, deitei um último olhar para a pista. Garanto que não era convidativa. Tem-se a impressão que a neve, numa pista de aviões, é mais perigosa do que numa auto-estrada. Mas devo estar enganado… (2013).

domingo, 17 de agosto de 2014

Luz - Au bon pain, com sol, frio e restos de neve, Boston, EUA

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Numa importante rua comercial de Boston, de manhã cedo, dia de sol com muito frio e neve. Num destes milhares de restaurantes ou cafés com esplanadas aquecidas e protegidas, um senhor toma o seu pequeno-almoço. Há qualquer coisa
de confortável nesta solidão… (2013).

domingo, 10 de agosto de 2014

Luz - À espera, em banco público, com flores e neve, Boston, EUA.

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Numa grande praça, diante da Biblioteca Pública, a poucos metros do local onde, semanas depois, ocorreria o atentado com explosivos contra os maratonistas, duas figuras que atraem a atenção. Uma senhora à espera, com ramo de flores e telemóvel, talvez a tentar perceber por que está à espera… A seu lado, um vagabundo, com os seus sacos e a tralha respectiva. (2013)

domingo, 3 de agosto de 2014

Luz - Passeantes na rua com neve, Boston, EUA


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O grande nevão, que paralisara toda a cidade, tinha ocorrido menos de uma semana antes. Quase nada funcionou durante uns dias: transportes, instituições, comércio, aeroporto, escolas… De repente, em 48 horas, uma autêntica frota de camiões avançou para a cidade, as ruas, as praças, os parques e os jardins. Rapidamente, foi possível pôr tudo a funcionar, mesmo se ficavam bem visíveis os montes de neve e gelo que nos ladeavam! Fiquei esclarecido sobre a eficiência dos serviços públicos americanos. Mas também percebi que, mesmo assim, os cidadãos daquele país se fartaram de protestar e de garantir que nunca os serviços se tinham atrasado tanto! (2013)

domingo, 27 de julho de 2014

Luz - Porto e cidade moderna, Cartagena de las Índias, Colômbia.

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Tanto o porto como a cidade moderna pouco têm a ver com a velha e pitoresca cidade colonial, dos tempos doa pirataria, do ouro e da esmeralda! Esta vista, tirada do alto do forte principal da cidade, mostra isso mesmo. Mas também revela a desordem e o desequilíbrio. Não se pode dizer que haja muito bom urbanismo… (2013)

Douro - Rio, Gente e Vinho - Resumo do Livro

O Douro é o lugar de um feliz encontro. Nada faria prever que aquela região, outrora inóspita, fosse local propício para tão venturosa reunião. Da própria terra, vieram os lavradores e os trabalhadores da vinha e do lagar. De ali perto, dos vales do rio, os arrais e marinheiros. Do lado de lá da fronteira, a Norte, os Galegos, inesgotáveis construtores de muros e socalcos. Do Porto, adegueiros, administradores e comerciantes. Da Inglaterra e da Escócia, sobretudo, mas também da Holanda e de outros países, comerciantes, exportadores, colégios de Oxbridge, "Clubs" de Londres e "pubs" de Edimburgo. Ao fazer um vinho excelente, toda esta gente fez também uma região, uma paisagem e uma cultura.
            Na verdade, o vinho do Porto não é um simples produto agrícola, mais ou menos típico, que se pode cultivar aqui ou ali. Com uma forte personalidade, é o resultado único daquele improvável encontro, mas também é o mais influente factor de modelação de todo o Alto Douro. O que esta região é hoje, deve-o ao vinho, à necessidade de o cultivar, armazenar e transportar. Os socalcos, quase até ao cume das montanhas, foram feitos para se plantar a vinha em proibitivos declives. Os mortórios, ainda hoje o perfil visível de numerosos vales, são os cemitérios dramáticos da filoxera. As quintas são a solução empresarial para uma complexa produção. A navegação do rio Douro, sem a qual talvez não tivesse havido vinho, abriu uma estrada de primeira qualidade, desde o século XVII.
            Sabe-se que houve vinho no Douro desde os Romanos, pelo menos. Mas, vestígios desses, há-os talvez em todo o país. A obsessão vinícola do Douro só começa no século XVII. Os Ingleses e os Escoceses, que negociavam no Norte de Portugal, mais lá para Viana do Castelo, traziam bacalhau e panos e queriam ter algo para levar de volta. Ora, os britânicos, quando faltava o vinho francês, iam-no buscar cada vez mais ao Sul, acabando por chegar a Portugal e Espanha. Em Portugal, depois de terem importado um pouco de todo o lado, mas sobretudo de Viana e de Monção, foram procurando para o interior e um pouco mais para o Sul. No Alto Douro fez-se o encontro. Encontraram um vinho mais forte, mais colorido, mais encorpado: armas para vencer o transporte e qualidades para seduzir o consumidor. Mas também um rio que permitiria trazer as pipas até à beira-mar.
            O resto é história. Este vinho transformou-se, nos séculos XVIII e XIX, na parte mais importante do comércio anglo-português. Em certos anos, foi o vinho mais importado em Inglaterra. Durante quase dois séculos foi o mais importante produto do comércio externo português, a principal origem de divisas. E também foi uma das primeiras fontes de receitas fiscais, situação que levou o poder político a legislar abundantemente sobre a vinha e o vinho. O governo português, pelo menos desde o Marquês de Pombal, sempre cuidou, com desvelo e severidade, do vinho que lhe era fonte de vida. Por isso o Douro constitui, desde 1756, a primeira Região Demarcada da história, exemplo que virá a ser retomado, desde os meados século XIX, pela França, depois pela Itália, Espanha, Alemanha e outros produtores de vinho. Em todas essas paragens se confirmou uma lei da vida: fazer um vinho é fazer uma região.
            Solidamente estabelecido nos costumes, o vinho do Porto foi mudando sempre, ao longo dos anos. Com mais ou menos açúcar, mais ou menos álcool, "vintage" de garrafa ou "tawny" de pipa, consumido como digestivo, aperitivo ou fora de horas, o vinho do Porto foi evoluindo sempre. O seu princípio, a sua essência, poderá ser ainda a mesma de há três séculos. Mas a sua circunstância já não é. Até os consumidores mudaram. O que era quase um monopólio britânico é hoje universal. Entre os primeiros consumidores do mundo estão os franceses, os belgas e os holandeses. E até os portugueses, tradicionalmente um pouco avessos a este vinho, consomem hoje mais do que os ingleses.
            Não foi só o vinho e o seu comércio que mudaram. Também a região, os homens e as mulheres, os modos de vida e de trabalho conheceram drásticas transformações, sobretudo nos últimos vinte ou trinta anos. As novas técnicas de plantação, de vindima, de vinificação, de transporte e de armazenamento alteraram de modo radical o "livro de horas" duriense. Esta rápida evolução, recente, contrasta com a longa imutabilidade de costumes e técnicas. Nos anos cinquenta deste século, cultivava-se a vinha, fazia-se a vindima e guardava-se o vinho de modo quase idêntico ao que as crónicas dos séculos XVII e XVIII nos relatam. Só os transportes tinham experimentado uma revolução, nas primeiras décadas do século XX, com a substituição do barco rabelo pelo comboio. Tudo é diferente, hoje, na sociedade e nas técnicas, com o que ficaram a ganhar os trabalhadores, quase escravos de uma natureza difícil. Tudo é diferente, naqueles atapetados vales, onde mal se percebe o colossal esforço que foi necessário para refazer montanhas. Apesar disso, sobre todo o Douro, paira a memória de lutas e batalhas, de abundância e crises, resultado de uma monocultura que tudo impregnou, das rochas às almas. E a modernidade não consegue esbater a recordação de dois heróis, símbolos de todo o Douro: o genial inglês Joseph James Forrester, Barão por mérito, morto no fundo do rio; e a formidável Dona Antónia, a "Ferreirinha", primeira entre os portugueses e mulher de armas entre homens que tudo viram.
            A história da região confunde-se com a do vinho do Porto e com a do país na era moderna. O Douro participou em todas as lutas que fizeram o Portugal contemporâneo. Modernistas e conservadores; "franceses" e patriotas; liberais e absolutistas; proteccionistas e livre-cambistas; republicanos e monárquicos; autoritários e democratas defrontaram-se no Douro, ou por sua causa, com toda a vivacidade. Uma das mais famosas insurreições do povo da cidade do Porto, o Motim de 1757, teve o vinho do Douro como causa próxima. A Guerra Peninsular teve, em Mesão Frio e na Régua, episódios inesquecíveis. A Guerra entre dois irmãos, Pedro e Miguel, conheceu, no Douro, momentos de excepcional ferocidade. O mais famoso incêndio da história do Porto é sem dúvida o das caves da Companhia, em Gaia, onde arderam, por causa da guerra entre liberais e absolutistas, mais de trinta mil pipas de vinho. As incursões monárquicas, depois de fundada a República, deixaram, no Douro, marcas indeléveis. E os três mais conhecidos ditadores do Portugal moderno, Pombal, João Franco e Salazar, cedo tiveram, nas suas carreiras políticas, de se preocupar com o Douro. A verdade é que nada nesta região foi simples, ou sequer sereno. Tal como o vinho. Ou a vida.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Luz - Rua de Cartagena de las Índias, Colômbia

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Mais uma rua desta curiosa cidade da Colômbia. Por todas as razões possíveis, a cidade antiga exibe uma limpeza invejável. Como se pode ver por esta rua e pelo varredor que, cedo de manhã, trata dos pormenores… A cidade, além de receber enormes quantidades de turistas e de mostrar fabulosos vestígios dos tempos coloniais, das actividades da pirataria, do comércio de escravos e do tráfego de esmeraldas e ouro, é também “património da Humanidade”. E tem-se a impressão de que os seus cidadãos e as autoridades prezam o facto e esforçam-se por manter esse estatuto. (2003)

Douro – Rio, Gente e Vinho

Em meu nome e no da Editora Relógio d’Água, gostaria de anunciar a todos os interessados pelo Douro a publicação, dentro de poucas semanas, do meu livro “Douro – Rio, Gente e Vinho”. Trata-se de uma nova versão, corrigida, actualizada e muito aumentada, das edições de “Douro”, publicadas nos anos noventa e há muito esgotadas. Além dos acrescentos e dos novos capítulos sobre a história mais recente da região, incluí cerca de 230 fotografias, a maior parte inéditas e da minha autoria, mas também muitas outras de grandes fotógrafos que passaram pelo Douro desde meados do século XIX: Joseph James Forrester, George H. Moore, Emílio Biel, Alfred Fillon, Casa Alvão, Guedes de Oliveira e outros. A selecção fotográfica ficou a cargo de Angela Camila Castelo-Branco. A impressão foi da Guide – Artes Gráficas.

domingo, 13 de julho de 2014

Luz - Vendedor de fruta, Cartagena de las Índias, Colômbia

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Já aqui vimos vários vendedores de fruta e diversas ruas de Cartagena. A cidade colonial é uma atracção turística poderosa, recebendo visitantes das Américas do Sul e Norte, assim como europeus. Talvez por isso a cidade esteja muito limpa. E nela todos os clichés são verdadeiros: cores e cheiros tropicais; fruta, peixes e mariscos; vendedores ambulantes; rum, café, sumos de tudo e de mais qualquer coisa… Come-se e bebe-se na rua por todo o sítio… Música sempre presente… Roupa colorida… Calor… Humidade… Vento quente… (2003)

domingo, 6 de julho de 2014

Luz - Interior de hotel em Pereira, Colômbia

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Esta imagem vale pelos efeitos de luz. E sobretudo pela espiral a quebrar a geometria rectilínea e perpendicular das formas e da luz. (2003)

domingo, 29 de junho de 2014

Luz - MFA, Museum of Fine Arts, Boston, Estados Unidos

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Imagem da Cafetaria do MFA de manhã cedo, antes da chegada dos clientes e visitantes. As formas geométricas e o jogo de luzes atraíram-me. O efeito de positivo e negativo nas mesas e a ruptura que as linhas oblíquas criaram nas perpendiculares chamaram-me a atenção. O andar da rapariga, em diagonal, na luz e nas sombras igualmente diagonais estava a pedir a fotografia… (2003)