domingo, 30 de novembro de 2014

Luz - Uma parede que quase fala, Portimão, Algarve

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Aqui temos uma parede quase a merecer honras de arqueologia. Só a Internet permite perceber alguns destes acrónimos. JAPBA é, pelas dimensões, o primeiro e mais importante. Trata-se da Junta Autónoma dos Portos do Barlavento Algarvio, com o seu orgulhoso Posto de Fiscalização, cuja sede deve ter sido em Portimão. Não posso afirmar que perdi muitas horas, mas dediquei algum tempo a tentar perceber o que tinha acontecido a esta JAPBA. Só sei que ainda vivia em 1995, pois Cavaco Silva e Mário Soares assinaram então uma lei que lhe dava poderes para concessionar actividades a terceiros. Depois disso, é o silêncio dos túmulos! O P.E., depois de investigação, servia para garantir que se tratava de “Património do Estado”. O PS é o Partido Socialista. E o Partido Comunista Português é o PCP. O anúncio ao comício a realizar em Portimão refere um importante dirigente da altura do PCP, Octávio Pato. A misteriosa LUA visível na parede, quase atrás da cabeça do senhor da esquerda é uma sigla diminuída. Na verdade, trata-se da LUAR, Liga de Unidade e Acção Revolucionária, grupo político dirigido e fundado, entre outros, por Hermínio da Palma Inácio e que ainda hoje se recorda por ter, antes de 25 de Abril de 1974, levado a cabo um audacioso assalto aos cofres do Banco de Portugal da Figueira da Foz. A Exposição Anti-colonial que se anuncia deveria ser o que diz ser, não parece ter deixado recordações conhecidas. (1974)

domingo, 23 de novembro de 2014

Luz - Tourém, Trás-os-Montes

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Aldeia perto da fronteira entre Portugal e Espanha. Fronteira, aliás, praticamente inexistente hoje. Não longe de Montalegre e do Gerez. Por ali andei, há quase quarenta anos. Esta formidável debulhadora deveria ser o símbolo de maior modernidade e de mais avançada tecnologia existente na aldeia. O cereal que se debulha aqui é centeio, típico de solos pobres, de climas frios e de cultivo em sequeiro. Ao fundo da eira, quase imperceptíveis, podem-se identificar um ou dois espigueiros, aqueles “armazéns” de granito e madeira que protegiam o cereal, o grão, às vezes uns utensílios ou produtos da horta. Protegiam-se das chuvas, dos fungos e dos ratos. Ainda há gente a viver em Tourém. Mas cada vez menos. E jovens, poucos.(1980)

domingo, 16 de novembro de 2014

Luz - S. Petersburgo, Rússia

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A primeira vez que tinha estado nesta cidade fora nos anos sessenta. Nem a cidade, nem eu, éramos iguais ao que somos hoje. S. Petersburgo chamava-se então Leninegrado (depois de já ter sido Petrogrado por uns poucos anos), do nome de Lenine, o revolucionário russo, depois chefe do partido comunista da União Soviética, o fundador e primeiro ditador daquele país (tal como havia Estalinegrado, de Estaline, o segundo ditador). Nessa altura, era impensável ver um militar russo, ou soviético, sentado num banco no meio da rua ou de um jardim, com uma lata de cerveja no chão, ao lado de um jovem de T-shirt e mangas à cava, talvez também militar. S Petersburgo, maravilhosa cidade, voltou a ter o nome que tinha desde a origem (foi aliás o Czar Pedro que a fundou no início do século XVIII). Estes dois jovens estão sentados num banco público dos jardins em frente à catedral de Santo Isaac e perto de hotéis famosos, o Astoria e o Angleterre, onde pernoitaram, desde há cem anos, todos os importantes deste mundo, capitalistas ou comunistas, russos ou americanos, militares, políticos e escritores. A catedral de Santo Isaac, acima referida, tem uma história curiosa. Após a revolução, os comunistas decidiram que aquele local deveria ser encerrado ao culto e às trevas. Assim fizeram e transformaram-na, pouco depois, num “Templo do Conhecimento”, apetrechado de um “Pêndulo de Foucault”. O Museu ficou a chamar-se “Museu da História da Religião e do Ateísmo”. Agora, perdeu a vertente “ateísmo” e ganha gradualmente a sua vocação religiosa. (2010)

domingo, 9 de novembro de 2014

Luz - Jardim de um palácio na República Democrática Alemã

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Posso errar e tenho dificuldade em encontrar fontes e vestígios, mas creio tratar-se dos jardins do palácio Sans Souci (ou Sanssouci), em Potsdam, perto de Berlim. O palácio, em estilo Rococó, foi mandado construir por Frederico, o Grande, em meados do século XVIII. Era a sua residência preferida, a tal ponto que exigiu ficar lá enterrado numa campa descaracterizada, coberta por uma laje simples, ao lado das campas onde, sem mais nem menos requintes, ele mandou enterrar os seus cães. Em cima do seu túmulo, há por vezes uma flor e geralmente umas batatas, ao que parece em homenagem ao facto de ter sido ele o seu introdutor na Prússia. Os jardins são monumentais, com árvores, repuxos, pérgulas, vinhas, ramadas e escadarias. Visitei-o durante o período comunista e voltei lá há poucos anos. Esta fotografia data da primeira viagem, ainda nos anos 60/70. Era um domingo, feriado para toda a gente, a começar pelos militares que assim se passeavam com as famílias. Num canto sossegado, as famílias de três militares russos, na altura dizia-se soviéticos, passeiam, convivem e fazem-se fotografar num ambiente de paz e calma. Como se sabe, nesses anos, a Alemanha de Leste estava militarmente ocupada pela União Soviética, enquanto os exércitos aliados dos Estados Unidos, da Inglaterra e da França, ocupavam a Alemanha ocidental. (Ca. 1970)

domingo, 2 de novembro de 2014

Luz - Fátima.

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Dias antes de uma peregrinação, quando o santuário e a alameda da Cova da Iria estavam quase desertos. Fátima é uma verdadeira tentação para um fotógrafo. Em todos os seus estados, com peregrinos ou sem eles, com o comércio dos vendilhões ou as velas e os círios das promessas, à noite ou de madrugada, com sol em brasa ou sob fria chuva… Fátima é local de grande fotogenia. E não é de certeza pela beleza natural, que não é muita. Ou mesmo nenhuma. Esta fotografia data ainda dos tempos anteriores à nova catedral e todo o local era mais despojado. Estas duas irmãs criam uma impressão estranha. Zanga? Polémica? Ralhete? Indicação de percurso? Direcção de caminho? Instrução? É difícil imaginar o que uma diz à outra, mas a pose da primeira revela uma autoridade e uma energia mais forte do que a redondeza da outra. (1994)